Terra Madre Brasil - Rede Nacional de Comunidades do Alimento

4/12/2008

CEPAGRO e rede Terra Madre no apoio às vítimas das enchentes em Santa Catarina

Este é um levantamento sobre os estragos causados às famílias agricultoras e moradores de periferias de algumas cidades, atingidas pelas fortes chuvas ocorridas no Litoral Catarinense e Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, onde ocorreu aproximadamente 90 dias de chuvas constantes, chegando na última semana ao estado de calamidade pública.

Os números disponibilizados pela Defesa Civil e mídia retratam cerca de 84 pessoas desaparecidas, 116 mortos e 78.707 flagelados. Em visitas “in loco” percebemos que estes números vão além, mas esta divulgação é para não alarmar a população. Encontra-se ainda, situações de desabastecimento energético, racionamento de água potável, estradas interditadas e perda de produção agrícola, principalmente nas zonas rurais.

Os municípios de atuação do CEPAGRO, onde desenvolvemos ações de Agricultura Urbana e Agroecologia junto a famílias, grupos e associações encontram-se nas principais áreas urbanas e rurais atingidas. Em contato com as regiões, identificamos aproximadamente 135 famílias em 14 municípios que tiveram perda total ou parcial da produção, bens materiais, trabalho e investimento financeiro. São famílias que buscam a segurança alimentar e a geração de renda de forma solidária através do Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida de Agroecologia e, que vinham se afirmando na produção agroecológica tanto no espaço rural quanto no urbano.

Em comunidades rurais dos municípios de Laguna, Garopaba, Paulo Lopes, Palhoça, São Bonifácio e Joinville, o plantio de mandioca (safra 2008/2009) e a produção de hortaliças ecológicas programadas para atender a demanda de consumo do verão, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/CONAB), feiras locais e circuito de comercialização da Rede Ecovida, estão totalmente comprometidos, gerando insegurança financeira às famílias, que ficam totalmente descobertas pela falta de seguro agrícola ou similar. Corre-se o risco de membros destas famílias procurarem empregos temporários afastando-se de suas atividades agrícolas, dificultando a permanência no espaço rural.

Na região do Alto Vale, principalmente nos municípios de Angelina, Major Gercino, Nova Trento, Leoberto Leal e Imbuia, onde a produção caracteriza-se por culturas anuais principalmente cebola, feijão, batata, uvas, peras e leite a base de pasto, também sofrem com perdas nas lavouras devido a declividade acentuada das áreas de cultivo.

Nos bairros de periferia dos municípios de Itajaí e Florianópolis constatam-se as principais perdas na produção das hortas comunitárias, com retirada de famílias das suas residências sendo conduzidas aos abrigos provisórios. A atuação do CEPAGRO nestes bairros acontece através do Programa de Agricultura Urbana fomentando e acompanhando Hortas Comunitárias, agricultura em quintais, hortas escolares e compostagem comunitária. A situação vivenciada nas visitas domiciliares realizadas no Município de Itajaí, na última sexta-feira dia 28 de novembro, onde circulamos em duas das comunidades que desenvolvemos atividades de hortas Urbano-comunitárias, bem como a passagem pela cidade, nos mostrou que a situação é extremamente precária e desoladora. As 30 famílias que temos ligação foram atingidas com a enchente e encontram-se na mesma situação de tantas outras que perderam móveis, utensílios domésticos, mantimentos, roupas e no caso especifico destas trinta, as áreas de cultivo. Também verificamos que a comunidade de Portal, por estar fora do eixo central da cidade encontra-se em situação de extrema carência, e pelos relatos obtidos durante a visita, estavam totalmente “desassistidas”.

O agravante é que as Hortas comunitárias, que estavam sendo um meio de auto consumo para a famílias e também servindo como forma de gerar renda para as mesmas, foram totalmente destruídas pela enchente. Pode-se perceber em conversa com algumas pessoas destas comunidades o desespero das mesmas frente a essa questão pois, estavam com tudo plantado, e comercializando a produção para o próprio bairro e outros.

A prioridade neste momento esta em angariar alimentos (ou fazê-los chegar) e reconstruir as moradias danificadas (estrutura e objetos), a fim de se ter um retorno às condições anteriores, não em sua totalidade, mas de forma a iniciar a recomposição do que restou.

Marcamos para quinta feira dia 04 de dezembro às 17 horas, uma reunião com o grupo de famílias, a fim de identificar suas demandas e quantificar de forma mais consistente as reais necessidades que poderemos apoiar pois, durante a visita estavam muito abalados emocionalmente para aprofundar em outras questões, além das necessidades básicas. De ante-mão, podemos dizer que todos pensam em reconstruir os espaços de produção, tendo o mesmo  sentimento de perda e de reconstrução, assim como as coisas da família e casa. Esta reunião envolverá as famílias que participam do grupo e demais moradores da comunidade, que são em torno de 170 famílias. Como a sugestão foi de realizar a referida reunião no espaço da escola, teremos participação de educadores, agentes de saúde, pastorais e demais interessados, procurando assim, estabelecer uma agenda de atividades envolvendo a comunidade escolar, e principalmente as crianças vinculadas a Escola Municipal. Iremos propor que, a partir da reconstrução dos espaços de produção e do refletir sobre as causas que vem gerando eventos desta característica, que se inclua na dinâmica da comunidade um olhar diferenciado para o local onde estão inseridos, pois as possibilidades de novas inundações são prováveis e demandarão uma convivência com esta realidade.

Tendo em vista os últimos acontecimentos catastróficos, provavelmente, decorrentes e resultantes de um modelo equivocado de produção e consumo, onde a natureza é usurpada e desconsiderada como fundamental para a permanência das diversas formas de vida no planeta. Seguimos confiantes que a agricultura ecológica implementada por estas famílias, que estão sendo atingidas, deve ser recuperada e amparada, para que a preservação da biodiversidade e culturas locais continue a promover segurança alimentar e relações solidárias, acreditando e fortalecendo ações que minimizem as causas, já comprovadas, do dito Aquecimento Global.

QUADRO GERAL DAS FAMÍLIAS ACOMPANHADAS PELO CEPAGRO E INTEGRANTES DO NUCLEO LITORAL CATARINENSE DA REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA

MUNICÍPIO N° DE FAMÍLIAS ATINGIDAS PRINCIPAIS PRODUÇÕES AGROPECUÁRIAS ÁREA EM HECTARES ATINGIDOS
JOINVILLE 20 Hortaliças, Pupunha, Aves, Raízes, Milho, Feijão, Batata Doce, Frango Caipira e Banana 40
JARAGUÁ DO SUL 06 Bananas 15
LEOBERTO LEAL 12 Cebola, Uva, Abacaxi, Hortaliças, Batata Salsa, Milho, Feijão, Batata Doce e Leite a Base de Pasto. 30
IMBUIA 06 Cebola, Hortaliças, Milho, Feijão, Batata Doce e Leite a Base de Pasto. 15
NOVA TRENTO 06 Cebola, Uva, Abacaxi, Hortaliças, Batata Salsa, Milho, Feijão, Batata Doce e Leite a Base de Pasto 18
ANGELINA 05 Uva, Pêra, Batata Salsa, Hortaliças, Milho, Feijão, Abóboras, Açúcar Mascavo e Farinha de Mandioca. 13
SÃO BONIFÁCIO 06 Hortaliças, Derivados de Leite, Milho e Feijão 06
FLORIANÓPOLIS 12 Horta Comunitária da Tapera (Hortaliças e Medicinais) 0,1
PALHOÇA 10 Farinha e Derivados de Mandioca, Hortaliças, Milho e Feijão. 10
PAULO LOPES 06 Farinha e Derivados de Mandioca, Hortaliças, Milho e Feijão. 10
GAROPABA 05 Farinha e Derivados de Mandioca, Hortaliças, Milho e Feijão. 10
LAGUNA 05 Leite a Base de Pasto, Hortaliças, Milho e Feijão. 10
TOTAL 134 190 hectares

Visando dar o apoio necessário para tais comunidades, o CEPAGRO disponibilizou sua conta bancária para receber doações, que são bem vindas em qualquer quantia. Aqueles que desejam dar a sua contribuição devem confirmar por email, para que seja feito o controle e as futuras prestações de contas. O apoio solicitado será direcionado a ações reparadoras junto a comunidades urbanas e rurais atingidas, sendo:

  • Reconstrução das áreas de cultivo;
  • Aquisição de insumos agrícolas ecológicos;
  • Recuperação de equipamentos e utensílios utilizados na agricultura;
  • Auxílios nas reconstruções e reparos nas residências, escolas, creches associações comunitárias e instalações rurais;
  • Capital de giro para o período de recuperação das áreas de cultivo.

DOAÇÕES PARA:

CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo
CNPJ: 81840233/0001-02
Banco BESC
Agência: 117-1
Conta Corrente: 027.069-4

EMAIL: cepagro@cepagro.org.br e marcos@cepagro.org.br.

O CEPAGRO agradece a solidariedade e, a rede Terra Madre conta com o apoio de todos.

1 Comentário

  • 1. Eliane dos Reis  |  4.12.08 às 12:00

    A Fortaleza do Pinhão é solidária a iniciativa.

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