24/03/2010
Cerimônia de encerramento do II Terra Madre Brasil
A cerimônia de encerramento do II Terra Madre Brasil contou com a presença dos principais parceiros da associação Slow Food, na última terça-feira, dia 22, no Complexo Cultural da Funarte, em Brasília. A mesa foi composta por Humberto Oliveira, secretário de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); Willem Bettink, representante do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA); Antônio Alessandro, primeiro conselheiro comercial da embaixada da Itália; Ricardo Lima, secretário adjunto da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural (SID) do Ministério da Cultura (Minc); Sérgio Mamberti, presidente da Funarte; Daniel Maia, representante de Guilherme Cassel, ministro do MDA; e Carlo Petrini, presidente e fundador do Slow Food.
Os parceiros foram unânimes em exaltar a importância da rede global Terra Madre para promover a diversidade cultural a partir da alimentação. Humberto Oliveira, do SDT, destacou que o Brasil foi o primeiro país no mundo a assinar acordo de cooperação com o Slow Food. “Desde 2004, quando participamos do primeiro encontro da rede em Torino, na Itália, entendemos a importância de estabelecer relação com o movimento”, diz Oliveira. Utilizando uma das frases emblemáticas do movimento “comer é um ato agrícola; e produzir é um ato gastronômico”, ele acrescenta que alimentar-se também é uma ação política em favor da agricultura alimentar.
Para ele, o meio rural é um lugar de riqueza e diversidade e precisava ter seu valor resgatado para a sociedade brasileira. Há seis anos parceiro do Slow Food, o MDA comemora os projetos articulados com a Fundação Slow Food para a Biodiversidade. É o caso das oito Fortalezas que protegem e integram produtores, técnicos e entidades locais para potencializar gastronomicamente alimentos ameaçados de extinção. Oliveira cita o trabalho de resgate da tradição do crustáceo Aratu, em Sergipe, sua terra natal. E também o empenho dos produtores para recuperar a farinha de araruta, possível candidato para fazer parte da Arca do Gosto, catálogo de produtos nativos, que já conta com 21 sabores nacionais. “A segunda edição do Terra Madre Brasil foi um marco para esse trabalho de vanguarda. Queremos trabalhar massivamente para que a filosofia do Slow Food alcance as comunidades rurais”, conclui. Hoje, 60 Comunidades do Alimento recebem apoio da Fundação.
O presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, lembrou esteve no Terra Madre, na Itália, em 2006, e ressaltou a dimensão cultural do encontro. “É uma luta cada vez mais forte em favor de um mundo mais saudável para que o prazer de ter um prato com qualidade possa estar presente na vida de todos”, declarou. Após a apresentação dos parceiros, o Coral Guarani encantou o público com seu canto, formado por jovens índios. Carlo Petrini assumiu a palavra logo em seguida e iniciou seu discurso informando que o encontro da rede já está presente em 158 países. “Em seis anos, a rede se desenvolveu devagar, mas prosseguindo como a lesma (logo do Slow Food), que caminha lentamente e avante. Diversos lugares do mundo estão realizando encontros como esse que ocorreu no Brasil”, diz Petrini. As próximas edições serão na Ingalterra, Suécia, Austrália, Nova Zelândia e Quênia, antes do encontro global em Tornino, de 25 a 30 de outubro.
Petrini encorajou a rede brasileira a investir na produção de pequena escala e afirmou que não há nada de mais moderno que a agricultura local. O líder apontou que nos últimos 50 anos o sistema alimentar industrial levou à destruição do planeta. Em seu discurso ele levantou bandeira contra o desperdício utilizando dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação). “Produzimos comida para alimentar 12 bilhões de pessoas, sendo que a população mundial é de 6 bilhões. Pedimos para a terra produzir mais, colocamos produtos químicos e depois jogamos tudo no lixo”, declara Petrini, acrescentando que na Itália 4 mil toneladas de alimentos é desperdiçada diariamente, enquanto que nos Estados Unidos, 22 mil.
Devido à demanda pela produtividade, o planeta perdeu 70% da sua biodiversidade. Por isso, convocou para que os brasileiros se voltassem para os povos indígenas. “Toda cultura tem um valor sagrado. Não podemos sustentar mais a política consumista. Precisamos de uma nova visão, um novo humanismo e novos sujeitos”, declarou. Entre os projetos bem sucedidos do Slow Food no Brasil, ele citou a criação de hortas escolares em São Paulo, e o projeto educacional Gastromotiva, que capacita e incentiva jovens de baixa renda a serem empreendedores.
Também motivou os participantes a utilizar a inteligência afetiva e defender sua cultura. Ele define o movimento criado há 20 anos como uma pequena organização com boas idéias capaz de se espalhar rapidamente, como um vírus. Não se trata de um grupo elitista, mas que busca promover o direito à qualidade dos alimentos para todos, valorizando a agricultura local, a relação direta com os produtores e a sazonalidade contra o desperdício. “O valor do Terra Madre é a rede que estimula a fraternidade e um visão holística, congregando comida, música, espiritualidade e os diversos aspectos de uma cultura”, finalizou. Aplaudido de pé por uma platéia entusiasmada, a segunda edição brasileira terminou ao som do forró da Fortaleza do Umbu. Sob o ritmo contagiante de Asa Branca, os participantes, inclusive, Petrini, dançara em uma grande roda, conectando a rede e celebrando a terra.