14/12/2008
Transgênicos Voadores
Um estudo destinado a relançar a polêmica sobre a contaminação com organismos geneticamente modificados (OGM). Pesquisadores americanos, mexicanos e holandeses da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) demonstraram a presença dos genes provenientes de OGM nos cultivos de milho crioulo (nativo) no estado de Oaxaca, no sul do país centro-americano. Ressaltamos que no México está vigente uma moratória sobre os OGM.
Os resultados do estudo revivem uma polêmica levantada há sete anos, quando em 2001 um artigo controverso foi publicado na revista Nature, relatando um estudo da Universidade de Berkeley (Califórnia) que revelava contaminações do milho Roundup Ready e Bt, de propriedade da Monsanto, nos cultivos tradicionais. Na época as pressões da agroindústria foram muito fortes, tanto que a Nature teve que desmentir o artigo afirmando que se tratava de uma análise pouco detalhada.
O estudo da UNAM, coordenado pela Professora Alvarez-Buylla, demonstra a presença de milho transgênico em 3 dos 23 campos analizados em Oaxaca em diversos relevos, de 2001 a 2004. “Nunca havia encontrado tal dificuldade em publicar os resultados de um estudo” explica Alvarez-Buylla. Por exemplo, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos recusou a pesquisa porque “teria provocado uma atenção excessiva da mídia sobre o argumento e por razões políticas ligadas ao tema ambiental”. Assim se avalia a pesquisa científica…
E como o milho transgênico chegou às alturas isoladas do México? A primeira hipótese é que alguns agricultores teriam importado sementes transgênicas ilegalmente. Mas também existem fortes suspeita sobre a Pioneer, multinacional que distribui sementes híbridas aos pequenos agricultores mexicanos através do programa de ajuda governamental. Algumas análises de fato evidenciam partidas de sementes da Pioneer estavam contaminadas com milho transgênico, e que a Monsanto impediu a rotulagem indicando a presença de OGM.
Os autores do estudo solicitam maiores esforços para a preservação das espécies nativas de milho, sobretudo em um país como o México, reconhecido como o centro de origem deste cereal. Entretanto, o mais preocupante são os projetos da indústria farmacêutica, que apontam para a utilização da biomassa do milho como bioreagente, com o objetivo de criar vacinas ou anticoagulantes. Alvarez-Buylla explica: “vistos os incidentes já verificados nos Estados Unidos, no momento em que há dificuldades em separar estes bioreagentes dos OGM, há o risco de se transformar o milho contaminado em descarte da indústria farmacêutica, anulando sua vocação alimentar. E o que acontecerá se os anticoagulantes acabarem nas tortilhas dos mexicanos?”.
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Texto Original: Le Monde
Versão em italiano: Luca Bernardini/ Versão em Português: Roberta Sá
3 Comentários
1. Roberta Marins de Sá | 15.12.08 às 10:50
Se isso está acontecendo no México, onde há uma moratória aos transgênicos, o que deve estar acontecendo no Brasil, onde 4 variedades comerciais de milho transgênico já foram liberados para plantio e comercialização?
E o nosso milho crioulo?
2. Luiz Balcewicz | 15.12.08 às 10:49
Pois é Roberta,
Acredito que somente a pressão dos movimentos sociais é que poderá resultar em ações e estudos via políticas públicas que, possivelmente, comprovarão as contaminações em TODAS as regiões do país, infelizmente!
Nessa questão não existem milagres, a possibilidades de coexistência entre milho geneticamente modificado e milho crioulo, no campo, é impossível.
Acredito que uma das saídas poderia ser a conquista de áreas livres de OGMs, contudo, resta saber como construir isso?
3. Roberta Marins de Sá | 19.12.08 às 11:18
Luiz
Concordo com você.
Na Europa o Slow Food Italia encabeça a Coalizão Itália-Europa Livre de Transgênicos (http://www.liberidaogm.org), envolvendo movimentos sociais, ONGs e entidades de classe.
No Brasil tem muitos grupos lutando contra, mas acho que está na hora de unir forças.