Terra Madre Brasil - Rede Nacional de Comunidades do Alimento

7/10/2008

As Castanheiras do Maracá

Escrito por: Osias Silva

Na corrida para se chegar ao mercado e conquistar um novo espaço, as mulheres da castanha do Maracá percorreram um caminho de muita luta e sacrifícios. Uma iniciativa que hoje é encabeçada pela AMAAM, Associação de Mulheres Agroextrativista do Assentamento Maracá na transformação da castanha in-natura em subprodutos, gerando renda e inclusão social

Antes, quando elas juntavam os ouriços (fruto da Castanheira), quebravam, carregavam o paneiro de castanha nas costas, depois entregavam para o atravessador, não viam dinheiro. Isso porque o que recebiam em troca geralmente era para cobrir despesas feitas durante a entre safra e às vezes não dava nem para pagar com a produção de castanha, precisavam fazer farinha de mandioca para auxiliar no pagamento. Um serviço pesado, difícil até mesmo para os homens, transformou essas guerreiras em mulheres sonhadoras. Sonhavam em um dia mudar a rotina da mulher castanheira em produtoras das chamadas “Doçuras Maracá”.

A transformação não veio de uma hora para outra, foram cerca de dez anos de muito trabalho duro para ser reconhecido o valor da transformação da castanha in-natura em castanha beneficiada. Depois de um curso feito na comunidade para o aproveitamento da castanha em 1998, uma família se encarregou de fazer o teste para ver se dava certo. O produto sofreu algumas alterações, como a retirada de sua receita o farelo de trigo industrializado, substituindo pela goma da tapioca natural. As adaptações tiveram resultados e aos pouco essa família acreditava mais ainda no negócio. Outras produtoras, vendo a possibilidade de melhorar a renda na transformação da castanha in-natura, começaram também a produzir o biscoito, o bombom, a paçoca, mingau e outras delicias a mais de castanha. Hoje já são mais de onze famílias trabalhando neste empreendimento

A AMAAM cuida da organização das produtoras, em busca de parceiros para apoiar a iniciativa, e incentiva através da participação em feiras, eventos e encomendas. Com a participação no Terra Madre Brasil em 2007 e com a possibilidade de ir até a Itália para o Terra Madre 2008, um leque de perspectivas enche de orgulho as produtoras, vendo o seu trabalho sendo valorizado.

Olhando por outro ângulo, às vezes não é preciso de muita coisa para se desenvolver um grupo, é preciso apenas de oportunidade.

Parabéns mulheres castanheiras do Maracá!
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Osias Silva é integrante do movimento jovem Youth Food Movement, estagiário em projetos desenvolvidos pela Universidade de Brasília no Assentamento Maracá e técnico em agroextrativismo pela Escola Família do Carvão.

Leia outros textos escritos por Osias Silva:
– Comunidade da Castanha no Arraiá do Meio do Mundo
– Terra Madre
– Os Encantos do Maracá

4 Comentários

  • 1. Karla Queiroz de Melo  |  9.10.08 às 10:40

    Osias, parabéns texto!!

    E parabéns, principalmente, para as guerreiras Castanheiras do Maracá!!

    Abraços,

    Karla

  • 2. Teca Ribeiro  |  9.10.08 às 5:41

    Osias,
    Parabéns pelo texto. Realmente, não são poucos os obstáculos enfrentados pelos extrativistas do Assentamento Agroextrativista Maracá.
    Além de carregar a castanha nas costas pela mata, os acidentes geográficos os obriga a enfrentar as corredeiras durante grande parte do percurso até o local de coleta. Tarefa árdua, na qual as mulheres vêm gradativamente buscando outras alternativas como a associação que produz os deliciosos biscoitos “Doçura Maracá”. É mais do que um biscoito. Como vc mesmo diz “é inclusão social”. Acredito que tão importante quanto o trabalho das mulheres é o trabalho realizado por vc e outros jovens que se articulam e buscam a melhoria das condições de vida da comunidade.
    Teca

  • 3. Osias Silva  |  10.10.08 às 11:17

    É uma satisfação enorme ajudar a comunidade da castanha do Maracá. Morei na região 15 anos, praticamente convivie com a luta e e a dura tarefa em sobreviver no meio da floresta. Ter de coletar frutos e sementes para não derrubar as arvores. Agora com as oportunidades surgindo a comunidade vive um outro momento, o das descobertas e novos conhecimentos. A agregação de valores juntando a divulgação da castanha do Maracá.
    obrigado a todos.
    Osias

  • 4. Benedito Oliveira de Castro filho  |  13.10.08 às 4:30

    Parabéns as famílias do Projeto de Assentamento agro-extrativista Maracá, pela jornada, por mais essa vitória. Hoje vemos quão grande e importante foi a luta da ATEXMA pela conquista da terra, do direito de viver, produzir e reproduzir a cultura local. E o que dizer da EFAEX-MA, a primeira escola família agroextrativista do Brasil, onde repousa nossas esperanças de novos sonhos (…), um abraço aos diretores, discentes, docentes e funcionários.
    Aqui vai um abraço solidário ao grupo, para dona Helena, guerreira, pioneira na transformação de castanhas em gulosemas (como foi importante o curos promovido pela REBRAF em 1998, obrigado Dr. Gário!), e por ter nos mostrado o poder transformador da produção familiar na agregação de valor e como instrumento da construção de uma nova economia, inclusiva, solidária. Viva a grande floresta, seu povo, sua cultura! A Itália vai se render a magia e sabor da Amazônia…
    Benedito Castro – Bené.

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